quarta-feira, 20 de julho de 2011

Você não sabe? Um sorriso pode mudar o mundo. Parte 1

Vem aí uma pequena história que deve ser dividida em duas partes ou três.
Não é um conto de terror, tampouco é triste - quem sabe até seja, para alguns. Talvez seja até um pouco romântico demais pro meu estilo. É um conto confuso. Não se deixem levar pela primeira impressão: esse conto é bastante dúbio, suspeitem do que está óbvio demais.
Enfim, a quem ler e não entender o que eu quis dizer com o parágrafo acima, leia de novo. A quem ler e entender, vocês vão ganhar um biscoito :)




Ele enxugou as mãos demoradamente e saiu do banheiro sentindo o ar frio nas mãos úmidas.
Ele andou por entre as pessoas no shopping, desviando uma a uma lentamente, como uma folha de papel, até chegar na loja certa.
Era uma loja toda em branco, cheia de objetos brancos e transparentes. Nas estantes, liam-se produtos de limpeza de todos os tipos, antissépticos bucais, sabonetes - líquidos e em barra -, esfoliantes, shampoos, pastas de dentes. Era o paraíso da higiene pessoal e da casa.
Rogério entrou na loja esfregando as mãos uma na outra, olhando meio perdido por entre as estantes.
Tirou o papel que tinha no bolso e começou a lê-lo apertando-o bem perto do rosto. Era uma lista de compras que tinha feito antes de sair de casa, e agora ele estava se preparando para o estoque semanal.
Pegou um pano no mesmo bolso e, com o pano, agarrou a barra de uma das cestas de compra. Tirou uma caneta do bolso e começou a pegar os produtos incrivelmente polidos das prateleiras.
Começou então a andar rápidamente por entre as pessoas, ainda desviando de cada uma delas como uma folha de papel no vento, até que esbarrou numa moça de uns 25 anos, derrubando a caneta no chão com o choque.
A jovem negra sorriu para ele, pedindo desculpas, e rapidamente se abaixando para pegar a caneta no chão.
- Desculpe, senhor, eu não estava prestando atenção, perdão - e sorriu-lhe um lindo sorriso, como aqueles de propaganda de creme dental.
Rogério parou e simplesmente a encarou abismado. A moça então ofereceu-lhe a caneta de volta, ainda sorrindo, um tanto envergonhada. Ele olhou da moça, ao chão, à caneta, à sua mão estendida num pequeno gesto de polidez.
Segundos se passavam, e, o que antes havia sido apenas um contratempo sem importância para a moça, agora estava assustando ela. O homem parado à sua frente ofegava um pouco, e olhava a caneta com um horror nos olhos. Joana se perguntava se ele estaria tendo um ataque cardíaco.
O homem balbuciou alguma coisa e começou a se mover - queria sair dali o mais rápido possível.
Àquela altura, a situação já estava atraindo olhares de curiosos e de pessoas alarmadas com a atitude do homem.
Ele tentou correr e tropeçou, as compras caindo no chão junto com seu dono.
Por reflexo, Rogério pôs as mãos na frente do corpo, mas, assim que o fez, soltou um ganido baixo e se virou de costas, encarando o teto brandamente iluminado.
- E...sujo, sujo, SUJO!
Ele se levantou e correu da loja. Os outros compradores (e outros curiosos que simplesmente haviam passado pela loja) fizeram um corredor relutante enquanto ele passava.
Joana, ainda parada no mesmo lugar, segurando a caneta e olhando para a situação, decidiu de pronto: iria atrás dele, e daria aquela caneta para ele, custasse o que custasse.
Saiu correndo da loja, procurando o homem fugitivo, avistando-o correndo para o banheiro.
Quando ela entrou lá, havia algumas pessoas paradas do lado de fora do banheiro masculino.
- O que aconteceu aqui? - perguntou ao público intimidado.
Um garoto de uns 14 anos respondeu para ela um tanto assustado:
- Tem um cara aí tendo um ataque histérico, ou coisa do tipo. 'Tá usando todo o sabonete líquido, assustou todo mundo.
Ele olhou em volta, procurando confirmação. Como ninguém falou nada, ele continuou.
- Eu dei só um toque no braço dele, para ver se 'tava tudo bem, e ele começou a gritar! Sério, o cara é doido, se eu fosse você, não entraria aí não.
Joana olhou para os outros, incrédula.
- Tem um homem ali precisando de ajuda, e vocês só pensam em assistir ao espetáculo, não é? Pois bem, eu vou entrar lá.
Joana virou-se decidida para a porta do banheiro.
Não ia deixar aquele homem - fosse o que fosse o nome dele - ser vítima de alguma gozação, ou que fosse filmado por ter um ataque num local público!
Ela entrou no banheiro masculino, e viu a cena.
O homem desconhecido da loja de produtos de higiene estava loucamente esfregando as mãos, chorando enquanto fazia isso. Ele havia arrancado o aparelho de sabonete líquido da parede, e agora estava enfiando a mão dentro dele, lavando as mãos de um jeito completamente obsessivo.
Ele estava gritando consigo mesmo coisas sem sentido. Só de vez em quando ela entendia o que ele queria dizer - era algo com sujeira, imundície, precisava tirar a sujeira, acabar com tudo.
Ele parou e olhou para ela, parando de chorar e só soluçando um pouco.
- Veio me entregar a caneta? - ele olhou para baixo, tristonho - Eu fiz um escândalo, não é? Eles vão todos rir de mim quando eu sair daqui. Vão todos... VÃO TODOS! Todos eles vão rir, e vão rir, e apontar seus dedos sujos na minha cara! Vão me fazer tocar em... Em... Em sujeira... Vão...
- Não, não vão - ela cortou - acalme-se, por favor. Qual é o seu nome?
Soluçou um pouco e respondeu:
- Ro-rogério.
- Então, Rogério, eu vou falar com o pessoal lá fora, e vou dizer para eles irem embora. Não vou deixar que eles façam nada com você.
Ele olhou para ela com uma expressão desoladora e cética, não acreditando naquilo.
Mas ela foi. Ela foi ao lado de fora e falou a eles, e eles foram embora.
Alguns ficaram, mas não falaram nada.
Joana voltou e convenceu Rogério a sair do banheiro, antes que chamassem os seguranças.
Ela o acompanhou até o carro dele, desejou boa noite, dando um leve toque na sua mão.
Ele ficou olhando para a mão que havia sido tocada, sentido um misto de felicidade e repulsão.
Ela então estendeu a caneta para ele, e sorriu para ele.
Rogério estendeu a sua mão e pegou a caneta, sentindo o peso dela na mão, avaliando a sensação em tocá-la.
Ela lhe sorriu novamente e foi embora.
Enquanto via as costas da linda negra, o homem voltou a si e levou uma das mãos ao bolso, para pegar o pano e usá-lo para abrir a porta.
De repente, pegou-se olhando o pano.
"Hoje não".
"Hoje não".
E jogou o pano fora, abrindo a porta com a mão.
Mal sabia ele que, no momento em que falhou em se desviar de quem era até o momento só um passante, sua vida tinha mudado.
De agora em diante, seria um novo homem.

4 comentários:

  1. sim, eu pensei nesse texto ontem, mas ele nao tinha forma nem nada, e a preguiça me pegou de jeito xD

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  2. Oi, Matheus. :), não tive tempo para pasaar aqui nos últimos dias, mas agora estou tendo e lendo tudo o que "perdi". Gostei muito do texto. Quero muito ver o resto. :)!

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  3. E o resto eu vou postar assim que a história que eu tenho na cabeça provar que vale a pena ser escrita, ok?

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