sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Indo embora pela segunda vez

Escrevo isso do ônibus que me leva para longe de São Luís, em direção à Caxias.
São cerca de 19:30, e, por culpa minha, meu celular já apitou a bateria fraca pela primeira vez. Já até me vejo, morrendo de tédio,  num ônibus que insiste em me atrapalhar ao escrever.
Devo chegar à uma da manhã, mas, agora, me preocupo só com Threshold dizendo que está em transe, que eu possuo toda a sua atenção, a como sua mente fica livremente na jornada da fez parte o tempo todo.
Não da para ver nada pela janela, então o máximo que posso dizer da viagem é que está desconfortável. A moça da minha frente achou apropriado esmagar as minhas pernans, e todas as luzes se foram, exceto a minha, sob qual escrevo numa agenda de 2010.
Enquanto o ônibus bagunça a minha já bagunçada caligrafia, penso nas pessoas que cheguei a ver, e nas que não tive chance de encontrar - desculpa, Igor. Amy me conta que as lágrimas dela secam sozinhas, e, caramba, eu sei disso.
Vi Débora, minha irmã, e até acho que fiquei com um pouco de saudade dela, mas eu sou casca-grossa rsrs
Escrever numa agenda é um saco. 14 de agosto foi sábado e divide a página com o dia 15.
Penso nos meus amigos, nas pessoas que fazem o dia-a-dia suportável.
Não pela primeira vez, penso que tenho os melhores amigos do mundo. Leroy me pergunta se eu estou me divertindo, com meus amigos e meu vinho francês.
Sim, me diverti.
Não foi exatamente como eu pensei que seria, mas é sempre melhor quando não é, não?
Amy me diz que eu tenho de contar para o meu namorado, quando ele estiver por aí, para ele comprar a própria erva e não gastar toda a dela.
Falando nisso, essas pessoas me deram suporte quando eu assumi a minha homossexualidade, e eu tenho uma dívida eterna com elas.
De novo, penso que tenho os melhores amigos do mundo.
Threshold me pergunta se eu estou preso na corrente de ar, perdido na névoa, se consigo ver algo pelo vidro.
Posso sim, graças a eles.
Pedro, Igor, João, Danilo, Hannah, André, Luís, Maria Thereza, Yuri, Guilherme, Gustavo, Helena, Aline e Carol, sem ordem de importância.
Amy me diz que me disse que ela problema, que eu já sabia que ela não prestava.
Não há honra maior no mundo do que ter vocês como amigos.
Muito Obrigado.

"I return a stronger man,
Stronger than the one you knew"

18 de Julho de 2012, lugar nenhum

sábado, 21 de julho de 2012

The Faces

It wasn't subtle, nor was it swift.
I was at home, reading.
Then there were the faces.
Faces on the wall, breathing in, and out, pulsing, alive, warm, cold and dead.

Foul breath coming from its many mouths, slowly creeping its way into the room.
I could not believe what my eyes beheld, though their horrible forms were, oh, so real.

The faces stood like a single creature, proud as a stallion, subtle as a rattlesnake.
As it stood still, it almost seemed to vanish into thin air.
Were it not for the dangerous and mischievous presence in the room, it would be undetectable.
I did not, however, move.
The thing on the walls - but that's an inaccurate way of describing the creature that stared at me with its thousand eyes - started humming and dancing ever slowly, then faster, and faster, and faster, the humming soon growing into full scream - screech -, the foul breath - that did not, in fact, come from its mouths, but from the room itself - was now the only air around.
There was no air to breathe.
I tried running, but the room spun so rapidly I would not dare to leave my spot.
Then all there was left for me was screaming hopelessly, and wait for the end.
But I couldn't.
The foul air that invaded my lungs would not go out. I could not breathe. I could not scream. I would choke with a full chest.
Then I understood.
The creature came to me - or was sent to me - to eat my soul, and make me one of the faces.
At the peek of its screeching and dancing, one of the faces came to me, stretching itself from the wall, stopping just as it became face-to-face to me.
"I shall devour thee", the face whispered in an ominous tone, "Thou shalt be forever trapped inside me, thou shalt never leave.
"Thou shalt never be free".
To this day I can't say for sure what possessed me to take such an action, but I did.
With the last shred of strength I had in me, I pulled my leg up and kicked the thing in the outstretched face. The creature shrieked, in complete disbelief.
The whole spinning-dance came to a sudden halt, and a breeze of fresh air cleaned my lungs, and I felt a strange force in me, a renewed will to live.
I stood up and said, as loudly as I could, "You will not have me now, nor will you ever have".
It looked at me and retracted, back in the wall.
"Leave me", I said, now not so strong as before.
And it left.
But the thing left with me a vengeful note.
A mask, blank, in the shape of and expression-less face, a warning.
I now can't sleep.
I've sold my house and bought an apartment in the city, because I couldn't sleep there.
I can't sleep here either.
I thought it was the mask, so I burnt it.
Didn't work.
I can barely work. I can barely live.
Everywhere I go, there are faces, watching, waiting.
It's coming to get me, I know this.
I just hope someone finds this and believes me.
I just hope I'm not insane.

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Eu tenho dois posts preparados para o blog.
Um deles eu queria ter postado sexta-feira, mas eu acho que só vou poder postar quando eu chegar da viagem (por ele estar anotado numa agenda e o único lugar que eu posso usar a internet aqui - em Luís Correia, praia, argh - é numa barraca na praia - cujo inconspícuo nome é "Barraca da Praia").
Bem, segue em sequência (se der para eu digitar), um conto que está anotado numa série de notas no celular, o que me permite postar aqui sem ser notado.
Vejo vocês em breve (brevíssimo).

terça-feira, 17 de julho de 2012

O poeta

Naquela cidade,
Naquela rua,
Naquela casa,
Naquele quarto,
Naquela cadeira,
Senta um poeta
Escreve, escreve,
Ninguém lê, mas escreve
Escreve por escrever
Tira os tormentos do coração
Cura a alma e afasta os maus pensamentos
- talvez até cure a dor-de-cotovelo
Naquela mesa,
Papéis
Ora, papéis!
Muitos, jogados
Frases de amor
Frases de ódio
Papéis!
Palavras mudas em constante mudança
Histórias inacabadas
No coração de um poeta
Moram todas as desgraças do mundo
E todas as belezas também.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aquele dia

Por incrível que pareça, os dias começam a se empilhar, um em cima do outro.
Um dia desses pensei que fosse quarta - e não era quarta? Não sei mais.
Só sei que, naquele dia, era como se eu tivesse recebido uma nova carga depois de uma longa temporada usando a mesma cansada e velha bateria recarregável.
Dava para o gasto? Talvez, nem sempre.
Na rua, descia uma visão tão estranha que, se pudesse ficar o dia inteiro analisando, ainda assim deixaria um quê de mistério.
Há um charme na dúvida, um charme na ausência de certeza, algo ao mesmo tempo lindo e perigoso, horrível e maravilhoso.
Foi como me senti.
Passou por mim como quem segue seu caminho, mas eu sei que não foi verdade - pelo menos gosto de pensar que não foi.
Foi tomado pelo medo, metade sim, metade não, num sonho meio louco de procedência duvidosa. E não são todos assim?
Tive medo.
Mas mais medo por deixar a visão fugir, ir embora, desaparecer, do que da própria figura.
Virei-me.
"Sabe dizer que horas são?", perguntei, mas nem certeza de que falei a frase inteira tenho.
Talvez, vendo minha mímica de relógio invisível, respondeu: "Umas quatro da tarde".
E sorriu.
Não era um sorriso perfeito, não, de longe.
Era um sorriso real.
E eu poderia passar eternidades banhando naquele sorriso.
Eu sorri de volta - que mais poderia fazer?
E foi embora.
Não me culpo por não ter feito nada.
Às vezes fantasio um pedido, "Vamos tomar um café?", talvez, mas sempre que penso nisso lembro das minhas pernas molengas e do meu coração batendo rápido, e da minha completa falta de palavras.
Lembro da meu completo e absoluto vazio de mente, nunca sem saber o que dizer.
Mas eu sempre vou guardar aquele pedaço de conversa comigo.
Sempre vou lembrar do dia em que vi o amor da minha vida passar, e só conseguir pedir as horas para ele.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Laura, as covas, os mortos e os fogos

No meu sonho, eu estou correndo em meio à névoa, perdida na escuridão.
Nele, não há nem chão, nem céu, nem nada.
Só há aquela névoa e o escuro.
A tão-presente escuridão.
Eu tropeço em algo e caio. Eu não caio no chão. Eu caio. E é cair que me mata.
Eu estou caindo, ainda; minha mente grita que o chão já deveria haver aparecido, que isso não faz o menor sentido, que uma queda não duraria tanto, que...
Eu aterrisso com um estrondo no chão duro de terra. Pela primeira vez no sonho, eu posso ver alguma coisa, e a primeira coisa que eu noto é onde eu estou.
É um buraco escavado retangularmente na terra, nem muito fundo, nem muito raso.
Eu vejo algo de relance, um brilho e uma sombra, algo de vivo naquela mórbida paisagem, e eu sei bem onde estou, pois já estive aqui antes.
É uma cova. E aquele é o coveiro, e ele vai me enterrar viva, e eu vou ficar para sempre sozinha nas frias entranhas da terra.
A primeira pá de terra cai do céu como um ataque aéreo na segunda guerra mundial.
A segunda, a terceira, a quarta, a quinta, e eu estou lá, deitada no chão, até que decido me levantar e sair daquele túmulo, e começo a escalar as paredes de terra da minha prisão.
Quando finalmente chego na surperfície, o coveiro já parou de tapar a cova com areia, e está olhando para mim com olhos frios e úmidos.
Ele era um homenzinho encurvado, baixo, um pouco gordo, mortificamente branco, como os mortos que ele enterra todo dia.
Ele diz alguma coisa incompreensível, aquele ar rançoso e arrastado naquela boca enegrecida. Eu não vi nenhum dente lá. Também não acho que houvesse. Depois volta a tapar o buraco, apesar de já não haver nada alem da névoa lá.
Eu começo a correr de novo, mas, dessa vez, eu sei onde estou. É um cemitério, e eu tento achar o portão de entrada, perdida na escuridão - mas a idéia de voltar e perguntar ao coveiro tanto me assusta quanto me enoja. Eu entro numa ala cheia de túmulos antigos, e me vejo cercada por todas aquelas cruzes e flores, e anjos, e epitáfios que nem sei para onde olhar.
Eu olho para um buraco na terra. Dentro dele, um caixão destruído, sem cadáver.
Eu me pergunto se o coveiro andou enterrando algum outro vivo por aqui, mas eu acho que não. Eu  vejo e tenho certeza.
Corro.
Minha sombra se estende pelo chão como se se arrastasse no mesmo passo que os mortos dali.
Os mortos que saem à noite.
Os mortos que saem à morte.
Eu corro. Por dimensões irreais. Pesadelos incontidos.
Corro, e, por mais que eu corra, não chego em lugar nenhum.
A voz do coveiro-caveira - por que eu pensei nisso? - me chega pelas costas, escala pelos ombros e lambe os ouvidos, putrefata.
"E que mais adianta correr.
"Que a história restaura de uma vez.
"E o grito suave da meia-noite,
"Ergue-se como todos os mortos, os corpos, e os fogos.
"Ergue-te"
Ergo-me e abro os olhos.
Os fogos estão lindos este ano.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Epitaph

i
the night follows - sleepless
the wind blew - sightless
clumsily, as i cross the door
regret the vanity - "oh, no!"
abstain from answers - wordless
calling out the dead - voiceless
merely, as i kiss the floor
taste the blood - let us flow
clench my teeth - worthless
lie awake forever - ceaseless

ii
to live and not to live
to die and never die
to face and run away
to stand and fall apart
let it be a warning to all
this epitaph of mediocrity