domingo, 17 de julho de 2011

A Rainha-Mariposa - Parte Um

O meu maior orgulho como escritor de contos.
 

“Abra os olhos, sinta a brisa, venha até mim.”
            Aquela voz. Dizia coisas sem sentido em seu ouvido. Aquele sonho foi tão real quanto a luz solar que invadia seu olhos, mas não podia ser.
            No sonho, ele era levado nas asas de uma linda borboleta, flutuava no céu e podia ver as outras borboletas acompanhando o vôo.
A voz feminina era constante naquele doce sonho, e repetia maravilhosamente aquelas palavras. Então a borboleta se desfazia como numa mágica, revelando uma mulher, a mais bela das mulheres.
Calmamente, ela colocava a mão em sua testa, lhe sussurrava aquelas palavras num doce canto de amor.
Ela se inclinava num beijo proibido e ele acordava.
Acordou. Rodrigo se pegou com uma pequena lágrima nos olhos e enxugou-a. Levantou-se lenta, mas corajosamente para mais um dia de trabalho. Foi até a cozinha preparar o café da manhã.
Rodrigo Batista era um homem relativamente jovem, no alto de seus 27 anos, que morava sozinho num apartamento em Salvador. Tinha um bom negócio imobiliário, tinha dinheiro suficiente para viver uma boa vida de solteiro. Era livre, desimpedido, e, como dizia seu único sócio e amigo de infância, Paulo, tinha uma mina de ouro nas mãos.
Mas toda essa alegria não servia de nada de noite. Nas madrugadas da vida, olhando pro teto de seu apartamento, pensando. “Vou viver assim para sempre?”.
Silêncio. Então não era silêncio.
Vinha aquela voz, a música de ambiente da sua vida. E não parava.
Era o sonho outra vez se tornando real. Outra vez tomando espaço em seus ouvidos, rastejando do fundo de sua mente com aquela voz pretensiosa, sibilando promessas ao seu ouvido. “Estou ficando louco.”
Bebeu o café a um só gole, sem parecer se importar com a língua queimada. Andou pela cozinha fazendo muito barulho, a fim de espantar a voz, sem muito sucesso.
Pensou na ex-noiva, em como ela o havia traído e ainda jogado a culpa nele. “Você é egoísta, imaturo e mesquinho! Vê se some da minha vida. NÃO VOLTE NUNCA MAIS!”.
Suspirou. Pensou nos amigos que tinha, os verdadeiros. A lista que contava não era extensa: apesar de sua juventude, ele sempre fora retraído, e não viveu uma adolescência de aventuras, como muitos dos seus colegas de classe.
Pensou no seu melhor amigo e sócio, Paulo. Ele já tinha constituído família e tinha agora dois filhos no forno, como gostava de dizer. Gêmeos.
Estava deprimido, e sabia. Sabia como seria a depressão, sabia o que aconteceria, sabia que sua melhor chance era tentar conhecer novas pessoas, tentar fugir disso. Se não...
Veio-lhe um fedor amargo, porém leve.
Não que isso importasse, não sentia que jamais voltaria a ver aquele apartamento, então, deixasse que fedesse. Era isso, ele havia feito sua decisão. Iria abraçar a morte que o esperava funesta no fundo da depressão.
Pegou seu isqueiro e acendeu um cigarro, pondo-o no bolso da calça.
Aquela quarta-feira seria a última de sua vida.


Um acidente de carro. Trivial. Você entra numa faixa de sentido contrário à sua, num fingido ato de descontrole. Espere a batida, dois toques.
Tudo numa boa.
Seria tudo um acidente. Ninguém jamais saberia a verdade, mas isso não o conformava: parecia tudo inútil. Àquela altura estava com o fedor amargo e indistinguível impregnado nas narinas. A cada inspiração, o ar que entrava em seus pulmões era denso, estagnado, estragado.
Num lapso de epifania ele soube o que era aquele fedor. Era morte.
Morte seca, putrefata, o fedor que somente algo que rastejou para fora do túmulo teria. E vinha de todo lugar à sua volta, vinha dele mesmo.
Suspirou uma vez o ar pesado.
Era hora.

2 comentários:

  1. Eu já li isso! Vou esperar chegar onde ainda não li! É até melhor, porque então leio em partes e mais facilmente. :)! Waiting. P.S.: Estou procurando uma foto para colocar no post em que irei falar de ti! :)!

    ResponderExcluir
  2. é um conto meio grande, então eu resolvi quebrar ele em pedacinhos. talvez eu só precise de mais dois alem desse \o


    ps: ah, ok, estou esperando ansiosamente :)

    ResponderExcluir