terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Independentemente do que diga o seu confiável Timex" - Posfácio

Sempre quis fazer algo sobre esse assunto.
Não acredito nessa coisa de sobrenatural - assuntos não-resolvidos, aparições, possessões, et cetera -, mas acho que, para um contista amador como eu, o assunto é fascinante.
Espero não ter entediado vocês com a longa narrativa do velho - propositadamente sem nome -, que desdobra a história da vida dele e de sua esposa juntos até o trágico acontecimento (que de fato aconteceu) do final do verão de 1954.
Gosto de pensar que ela era um espírito à moda moderna, completamente ignorante à própria morte, sem um motivo para viver, com um monte de problemas internos como a ausência da própria memória.
Talvez o filho dela simplesmente já soubesse onde ela andava, e soubesse a mentira a que ela incubiu sua pós-vida - uma fantasia sem sentido de ser uma espiã, uma ladra, uma assassina, qualquer coisa.
Talvez ele já a tivesse visto por ai.
Ou talvez ele simplesmente soubesse que ela estaria aonde seu corpo estivesse.
Porquê ele pensou em trazer seu corpo está completamente fora do meu alcance enquanto escritor, e espero que cada leitor compreenda que nem mesmo eu tenho a resposta para todas as perguntas.
Vamos ficar com a explicação mais simples, que - eu acho - é a mais concreta.
Ele, fazendo um favor ao seu pai velho e doente, aceitou levar seu cadáver por aí na esperança de encontrar o fantasma da mãe, sem que ela soubesse que estava sendo levada não para cumprir um assassinato, para roubar um banco, espionar um grande empresário metido em problemas com a lei, mas para encontrar, no fundo de todas aquelas mentiras fantasiosas e desesperadas, uma verdade: já estava morta havia anos.
Pensando bem... Talvez não seja assim tão simples.
Eu gosto de um quê não-explicado no final das histórias. Deixa espaço para a imaginação do leitor.
Dá para perceber isso em praticamente cada um dos meus contos.
Quem poderá dizer que, em "O Porto e a Luz da Lua", David não simplesmente afogou toda a família enquanto ouvia na cabeça uma música que ouvira anos antes, num filme, na televisão, ou numa peça, e depois enlouquecera, inventando para si mesmo a história do homem no bote, que esperava-o para seu grand finale?
Afinal de contas, para qualquer pessoa fora dali, o que aconteceu foi um homem louco, suspeito de assassinato, que volta à cena do crime e se mata também.
Soa bastante convincente, não é?
Mas pode ser que tudo aquilo realmente tenha acontecido.
Não se trata de me esqecer dos detalhes, e ignorá-los completamente, não querendo sequer clicar em "editar" para encaixá-los.
Trata-se de que nem tudo na vida será explicado.
No final de "A Revolução dos Bichos", Orwell não gasta nem uma linha sequer explicando o que os bichos [SPOILERS] farão depois de verem homem e porco lutando entre si, sem poder identificar quem é quem [FIM DOS SPOILERS].
Por quê? Porque não é necessário. O motivo já foi mostrado, e a história acabou, ponto final.
No mesmo livro, o autor também não se dá o trabalho de dizer se [SPOILERS] toda aquela maldade e perfídia de que Bola-de-Neve fora acusado eram verdade - de derrubar o moinho até convencer algum dos donos das duas fazendas vizinhas a atacar a "Fazenda dos Animais"[FIM DOS SPOILERS].
Outro assunto interessante é sobre a citação de Stephen King estar errada.
Eu sei que o certo é "A lua está baixa e a hora é nenhuma", mas, quando a citação me ocorreu, por algum motivo que TAMBÉM está além dos meus poderes, eu pensei em "agora é noite e a hora é nenhuma".
Trata-se de uma inspiração adicional ao trecho original. Leitores mais astutos podem se perguntar "então porque você não mudou?". Ora, eu tinha me inspirado nessa frase, e, mesmo que Stephen King não a tenha escrito, eu ainda a atribuo a ele, mas ela tem um pouco de mim, pois metade dela veio da minha própria mente inquieta.
Concluindo, eu não quero receber comentários me perguntando sobre isso ou aquilo, sobre o que fez Cole, ao se ver órfão, ou sobre o que ele fez com o cadáver. Enterrou? Devolveu ao hospital? Colocou-o no seu armário e começou a cultuá-lo como uma espécie de ligação satânica entre o plano terreno e o plano celeste?
Sei lá...
Sei que, enquanto houverem quartas-feiras, eu vou continuar escrevendo - sendo lido ou não, até que alguém descubra meus cadernos cheios de rabiscos de cálculos e paragráfos soltos de contos que ainda não tomaram forma e resolva publicá-los (ou queimá-los).
Esperam que tenham gostado do conto (um bem longo, tenho de admitir).

Um comentário:

  1. Como eu havia dito, realmente não consegui pensar em um comentário decente para demonstrar meu agrado. :3!
    Todavia, gostei bastante do senhor sem nome e de Charlie que, embora fosse possível entender que era sobre ele e ela a história que o velho contava, ao chegar a parte da morte, talvez tenha ficado meio complicado perceber o que acontecera com ela. E mesmo que tenhamos percebido (nós leitores), creio que cada um tem a sua noção pessoal dessas coisas espirituais, etéreas. Enfim, é isso. Ah, P.S.: alguns detalhes não revelados são as coisas mais interessantes! Que nos fazem realmente pensar no que pode ter acontecido. Para mim, quase sempre é isso o que faz os textos deste tipo ficarem tão bons!

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