domingo, 16 de outubro de 2011

Alice

No espelho do lago ela vê a face da dor.
No espelho do lago ela vê
No espelho do lago ela vê
Um futuro sombrio. No espelho do lago, no espelho do lado.
Uma sombra inefável, de um mistério abandonado - ou será
Que ele simplesmente jamais fora pertubado
por puro bom senso
de mil exploradores
mortos e enterrados?
No lago uma casa do espelho, que é e não é
Pois senão que a vida que corre em suas veias mal é e não é
Pensa e não pensa, quer e não quer
Pois que ela morre e não morre
Como gato
No espelho do lago ela vê uma sombra profunda
Uma sombra em plena penumbra, um eclipse
Uma lágrima fora de hora
Uma página fora de forma
Uma nuvem em forma de faca
Fadiga, faminta, feeling, fée fait une fournaise de feu
No espelho do lago ela vê маяк света 
E o próprio rosto, que brilha como a lua ensandecida
Cai num rêve e esquece de tudo aquilo
E quem dirá
que ela não sonhava
desde o princípio?

2 comentários:

  1. Acho que todos nós, através do nosso próprio espelho, vemos coisas que parecem ser e não são e que, aliás, revelam-nos coisas que talvez nunca soubemos. Sobre nós mesmos, sobre a vida, sobre os outros. Porque, quando entramos nos espelhos, as coisas trocam de lado, e é nesta troca que conseguimos reparar na verdade das coisas. Que, mesmo parecendo ser o que não são, podem outras ter sido o tempo todo apenas o que pareciam ser.
    "Let's pretend there's a way of getting through into it, somehow, Kitty. Let's pretend the glass has got all soft like gauze, so that we can get through. Why, it's turning into a sort of mist now, I declare! It'll be easy enough to get through--' She was up on the chimney-piece while she said this, though she hardly knew how she had got there. And certainly the glass WAS beginning to melt away, just like a bright silvery mist."
    (Through the Looking Gaze, Lewis Carroll)

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  2. "Is as it seems, or just a dream within a dream?"
    Through the Looking-Glass, Dream Theater
    Dizem que se nos olharmos no espelho num sonho, veremos o que realmente achamos de nós, mas eu não penso assim. Todo o conceito de espelhos é real demais para um sonho. Já tive sonhos em que li línguas incompreensíveis. Já tive sonhos em que vi terras - devastadas ou não - que não poderiam existir no mundo.
    No mesmo sonho, não nos vemos, nem aos nossos narizes, quanto mais aos próprios rostos.
    "'I am real!' said Alice, and began to cry.
    "'You won't make yourself a bit realler by crying,' Tweedledee remarked: 'there's nothing to cry about.'"
    Mas te dou um conselho, sonhadora: que um sonho nunca te fuja o controle, nem te engane em fazer-se real.

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