segunda-feira, 16 de julho de 2012

Aquele dia

Por incrível que pareça, os dias começam a se empilhar, um em cima do outro.
Um dia desses pensei que fosse quarta - e não era quarta? Não sei mais.
Só sei que, naquele dia, era como se eu tivesse recebido uma nova carga depois de uma longa temporada usando a mesma cansada e velha bateria recarregável.
Dava para o gasto? Talvez, nem sempre.
Na rua, descia uma visão tão estranha que, se pudesse ficar o dia inteiro analisando, ainda assim deixaria um quê de mistério.
Há um charme na dúvida, um charme na ausência de certeza, algo ao mesmo tempo lindo e perigoso, horrível e maravilhoso.
Foi como me senti.
Passou por mim como quem segue seu caminho, mas eu sei que não foi verdade - pelo menos gosto de pensar que não foi.
Foi tomado pelo medo, metade sim, metade não, num sonho meio louco de procedência duvidosa. E não são todos assim?
Tive medo.
Mas mais medo por deixar a visão fugir, ir embora, desaparecer, do que da própria figura.
Virei-me.
"Sabe dizer que horas são?", perguntei, mas nem certeza de que falei a frase inteira tenho.
Talvez, vendo minha mímica de relógio invisível, respondeu: "Umas quatro da tarde".
E sorriu.
Não era um sorriso perfeito, não, de longe.
Era um sorriso real.
E eu poderia passar eternidades banhando naquele sorriso.
Eu sorri de volta - que mais poderia fazer?
E foi embora.
Não me culpo por não ter feito nada.
Às vezes fantasio um pedido, "Vamos tomar um café?", talvez, mas sempre que penso nisso lembro das minhas pernas molengas e do meu coração batendo rápido, e da minha completa falta de palavras.
Lembro da meu completo e absoluto vazio de mente, nunca sem saber o que dizer.
Mas eu sempre vou guardar aquele pedaço de conversa comigo.
Sempre vou lembrar do dia em que vi o amor da minha vida passar, e só conseguir pedir as horas para ele.

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